Desenho na Educação Infantil: qual a importância?

Desenho na Educação Infantil: qual a importância?

Na maioria dos casos, crianças adoram desenhar. Desenhar é um ato bastante comum na infância e se engana quem pensa se tratar meramente de uma distração. Aqueles rabiscos que gradativamente vão tomando forma é uma prática essencial para o desenvolvimento da aprendizagem e do amadurecimento intelectual e emocional das crianças.

A atividade ganha uma importância especial quando elas ainda não conseguem significar o mundo com o uso da escrita e mais ainda, quando por meio da oralidade ainda não conseguem se expressar com clareza. Todo rabisco tem seu propósito.

Nesta fase, além da experiência psicomotora com o recorte, a pintura e com o brincar, os pequenos utilizam o desenho como uma linguagem que se conecta naquele momento do presente com o seu pensamento.

Os riscos, círculos e traçados são um caminho para a representação de sentimentos e de como enxergam a vida ao redor. Enquanto linguagem, o desenho é uma maneira de exprimir opiniões, vontades, criatividade, dar asas à imaginação e incluindo os sentimentos.

As crianças também representam por meio dos seus desenhos a construção da consciência como indivíduos e sua relação com as pessoas e coisas. E ainda podem oferecer sinais que identificam as características próprias da personalidade de cada uma.

Já deu para perceber a importância do desenho na infância, que vai além do desenvolvimento das habilidades artísticas, não é mesmo? Sabia que também é uma forma de analisar o progresso da criança nas diferentes etapas da infância? Vejamos mais sobre isso.

Estágios do desenho infantil

Cada criança tem sua individualidade, ritmo e forma de aprender. E é interessante como é possível notar a evolução da criança representada pelo que ela desenha.

O amadurecimento da complexidade dos traços dá indícios sobre o progresso dos estágios de aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo.

Os rabiscos iniciais são chamados de garatujas. São desenhos bem abstratos, com traçados que ultrapassam muitas vezes os limites do papel. Inclusive, não apenas o papel e o lápis são utilizados como suporte e instrumento. Pedra, calçada, areia, tudo se transforma em possibilidades para essa forma de expressão como vimos na imagem inicial em que as crianças desenham na parede e no chão com giz.

 

Desenho de criança de 2 anos na fase da rabiscação – cartão de identificação da criança

De acordo com Mary Sheridan (2002, 2005, 2009), em a “Hipótese do Rabisco”, rabiscar é uma necessidade do cérebro, e, mais ainda, ele está geneticamente predestinado a isso, assim como engatinhar e balbuciar para poder andar e falar. Ela acrescenta que o rabisco não é apenas a gênese do desenho mas também o pontapé inicial para outras aprendizagens como a escrita e a leitura.

Entenda que para falar, ler e escrever é preciso que as etapas de desenvolvimento da criança ganhem significados ao longo de seu desenvolvimento para sua entrada no  simbólico. A partir do simbólico, uma construção social, a criança será capaz de interpretar e significar o mundo.

Com a formação saudável do simbólico, a partir de 1 ano e 8 meses, as atividades que a criança realiza estão realmente inseridas na produção da cultura do humano. Deste modo, ela não será apenas uma reprodutora do que já foi criado, e suas produções, sejam elas escrita, leitura, desenho, cálculo, conversas, interações sociais etc. terão a presença de sua identidade nelas.

Para que isto ocorra, a função do adulto se torna fundamental. Portanto, aprove, dê um retorno afetivo, faça o olhar de apreciador e interessado de verdade, tudo na linha da autenticidade. Não faça perguntas que a criança não saiba responder e nem elogie demasiadamente.

Com o tempo, os rabiscos, mesmo que sem forma definida a um olhar de um adulto, começam a ter um sentido de representação para a criança. É um traço que retrata a mãe, um quase círculo que corresponde ao cachorro, e por aí vai.

Desenho de criança de 3 anos representando peixinhos no fundo do mar

A valorização da fala da criança é importante para definir o que ela desenhou, mas não é determinante e nem permanente, apenas respeite o que ela diz, pois ela quer dizer e quer lhe contar. Não é maravilhoso? Torne-se confiável para ela.

Já na garatuja ordenada, em que os traços não são mais rabiscos aleatórios,  a forma humana e dos objetos desenhados começam a ter um sentido de figuração e atendem a um determinado padrão de organização. É um momento mágico e muito gracioso, principalmente quando há um espaço de confiança e a criança consegue trazer significados mais consistentes para o seu desenho.

E a partir da célula ou do círculo, por exemplo, começam a aparecer traços intencionais no lugar dos braços,  pernas, cabelos, mas os objetos ainda são dispostos incoerentemente, sem relação uns com os outros. Mas preste atenção aos detalhes. Por vezes a criança coloca pequenos tracinhos para os dedos da mão e já tenta colocar as partes do rosto, mesmo que estejam fora do lugar.

Posteriormente, particularidades da imagem humana, discernimento sobre a perspectiva, a ideia de invisibilidade, são alguns itens do progresso do desenho, e consequentemente, de um maior entendimento sobre a representação das coisas, por parte da criança.

E o mais bacana disso tudo é a criança se empenhar nos detalhes e nos acabamentos, deixando-se levar pelo desenho de maneira concentrada, resgatando suas observações e significações criadas sobre o mundo.

Assista a este vídeo para entender melhor os níveis de desenvolvimento:

Benefícios do desenho na educação infantil

Como já apresentamos, o desenho tem uma função essencial no desenvolvimento intelectual, artístico e na integração social das crianças. Dos traçados brotam fantasias e ampliam a comunicação por meio do registro do que ela vê, além da representação dos cenários e histórias através de seus desenhos.

Além de aprimorar movimentos que serão essenciais para a futura prática da escrita, o desenho tem a capacidade de aprofundar o fazer da criança quando ela ativa seu sistema nervoso em suas distintas funções e ainda cria novas conexões neuronais.

Ainda com base em Sheidan, no controle motor fino da mão e maior destreza no uso do polegar opositor, as crianças, ao rabiscar e desenhar, trilham o mesmo percurso neuronal, preparando o seu cérebro para as diversas literacias, dentre elas, a alfabetização.

Desenho e a escuta ativa, um ato de acolhimento

As produções podem ser utilizadas como ferramenta para a escuta ativa, visto que são uma importante forma de comunicação da criança. Por meio do desenho, pais e professores podem captar o que a criança está apresentando sobre seu contexto e entendimento a respeito de determinadas situações.

Neste sentido, é possível utilizar como recurso pedagógico e psicológico para investigar como a criança entende o cenário em que se encontra e como absorve os acontecimentos e situações cotidianas.

O desenho e as emoções

Antes de iniciar o aprendizado da escrita formal, as crianças utilizam o desenho como forma de projetar elementos inconscientes. Veja bem, quando uma criança desenha ela não está apenas passando para o papel o que está vendo, como uma mera reprodução de uma cena. Na verdade, ela traduz um contexto segundo os seus sentimentos envolvidos naquele cenário.

Desenho de criança de 5 anos representando o bebê na barriga e condiz com a escrita

As crianças não apenas transpõem para o papel a representação da realidade ‘nua e crua’. Mas, a pintura é influenciada pela sua visão sobre as coisas e pessoas. Dessa forma, o desenho possibilita a expressão de suas emoções e compreensões.

É possível vincular a forma dos desenhos com a visão da criança a respeito do contexto em que vive e suas relações familiares e sociais. A utilização das cores e de suas proporções, por exemplo, podem representar sentimentos e percepções e ajudar a identificar uma dificuldade da criança. Sendo assim, o desenho é também um recurso de cuidado com a criança.

Inclusive, é bastante utilizado pela Psicologia. Pois, além de possibilitar este acesso aos pensamentos e sentimentos mais profundos, a atividade artística consegue ainda exercer uma função terapêutica, até de catarse ou relaxamento.

O desenho e o desenvolvimento motor

Segurar um lápis e movimentá-lo nas posições desejadas pode ser um grande desafio, a depender da idade e fase de vida da criança. Deter o controle para completar um círculo, ou pintar dentro da linha é também uma conquista para a coordenação motora.

Não interessa tanto como a criança segura o lápis mas sim que efeito ela consegue obter. Se ela não segura exatamente como a maioria das pessoas seguram, apoiando no dedão e sobre o lápis o dedo médio e o indicador, isso pode não representar nada de preocupante do que além de uma preferência.

Observe se o lápis está muito solto sem o tônus dos dedos, se o olhar da criança permanece longe da mão e do desenho, se ela aplica força desnecessária. Caso tenha alguma dúvida, procure um especialista da Terapia Ocupacional. Se há outras questões de cunho emocional envolvidas, converse com a escola e com o terapeuta da criança.

E, além de exercitar as mãos, os dedos e suas possibilidades de movimentos, o desenho também exercita a mente. Nas atividades, as crianças podem explorar a criatividade, o poder da imaginação, escolher a forma de melhor se expressarem, ou até mesmo inventar histórias e personagens.

O que fazer para estimular a prática de desenhar?

Atualmente, com todas as possibilidades tecnológicas, muitas vezes, o papel e a caneta não estão muito presentes no dia a dia das crianças fora do ambiente escolar. Portanto saiba que em casa, papel e lápis de materiais e cores diferentes não podem faltar!!!!!

Presentear uma criança com canetinhas coloridas, hidrocores de espessura diversas, com o antigo lápis grafite e coleção de madeira (lápis de cor) é uma grande ideia, principalmente se acompanhados por papel sulfite ou papéis coloridos. Em vez do tablet, leve papel, o giz de cera e os hidrocores para eventos em que as crianças não têm com o que se ocupar.

Mas , além de entender a importante função do desenho no processo de aprendizagem das crianças, é essencial saber como incentivá-las a manter a prática do desenho.

Primeiramente, essa atividade deve acontecer em um momento de descontração. É interessante que os materiais fiquem sempre em locais de fácil acesso às crianças, para uma lembrança natural. Incentivar sem impor.

O estímulo à prática pode acontecer evitando também uma limitação sobre a forma para elaborar o desenho. Isto pode bloquear o potencial imaginativo das crianças e o desenvolvimento de suas habilidades.

Por isso, muita atenção aos comentários. Lembre-se: é uma criança em um momento de expressão particular das coisas, que deve ser livre e espontânea.

Como forma de interação, pode-se perguntar sobre as histórias que envolvem os desenhos, propor diferentes cores, materiais, mas de uma forma respeitosa, sem forçar.

Além de tudo, é fundamental as observações virem acompanhadas de elogios e parabenizações, sem exageros, pelo esforço e dedicação da criança em suas produções, como um encorajamento, de forma a estimular a autoconfiança.

Para saber mais sobre as expressões de sentimentos e emoções no período da infância, leia o texto Como ajudar os filhos a lidar com as emoções?. Nesse artigo, você encontrará orientações sobre o que fazer para construir uma vida emocional saudável na infância e, consequentemente, na vida adulta.

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