Mesmo no ambiente mais afastado e remoto, se houver criança, certamente, não há calmaria. Uma das características da infância é o romper do silêncio: risadas, choro, correria, brincadeiras, perguntas e exclamações. Burburinhos reconhecíveis em qualquer lugar que elas se encontrem, mesmo que não identifiquemos as palavras.
Mas quando a criança realmente precisa ter voz e ser escutada pelo adulto? Como identificar e proceder? Quando os sentimentos da criança precisam do adulto que lhe dê o suporte apenas ouvindo-a? Vamos falar sobre a “escuta ativa”.
O termo diz respeito à conduta de educação que enfatiza a compreensão do outro por meio da comunicação baseada no respeito. Dessa forma, dando a oportunidade da criança expor seus sentimentos e expressar considerações sobre algo sem o atropelo da fala do adulto.
E ainda é importante entender que os filhos não são extensão e nem cópia de seus pais. A vida deles é única. A criança pode até se identificar com um dos pais em certas situações, mas o caminho de vida que ela trilha é diferente de seus pais, os significados que ela dá ao mundo é único como sujeito único.
Esta prática deve ser realizada pelos pais, mas também deve percorrer o ambiente escolar. Sim! Para um maior êxito no processo de ensino e aprendizagem e bem-estar da criança é preciso enxergá-la como um sujeito de direitos, que tem voz, identidade e sensações próprias. O sentido das coisas é da criança e o adulto deve escutar sem interferir.
Escuta Ativa: o que significa?
Escuta Ativa tem mais a ver com a postura de quem ouve, do que propriamente o fato de ouvir. Sabe aquela frase “entrou por um ouvido e saiu pelo outro”? Pois bem, a escuta ativa é o extremo oposto disto.
Sendo assim, para pôr em prática a escuta ativa é necessário primeiramente se dispor a entender o outro – no contexto desse texto, o outro é a criança. É uma atitude que demanda atenção e disponibilidade de tempo e afeto.
Além de se dispor a ouvir suas palavras, é importante ter sensibilidade com os sentimentos e até mesmo demonstrar corporalmente atenção.
Olhar nos olhos, explicar o que for questionado e ter uma conduta respeitosa em uma atmosfera de tranquilidade são posturas que levam você a uma escuta ativa.
Benefícios da Escuta Ativa
Aprender a distinguir o que a criança expressa através dos sentimentos e comportamentos que ela manifesta é uma das principais vantagens da prática. Mas, a realização da escuta ativa traz outros inúmeros benefícios para a educação das crianças, tanto em casa como no ambiente escolar. Alguns deles são:
- A criança se sente valorizada e respeitada;
- É uma demonstração de cuidado e amor;
- O vínculo e a confiança mútua entre criança e adulto são fortalecidos;
- A criança passa a se relacionar melhor socialmente;
- Há uma maior clareza das mensagens;
- Desenvolve a autorreflexão;
- Aperfeiçoa a habilidade de tomar decisões;
- Tende a diminuir a ansiedade;
- Ensina sobre o respeito às diferenças;
- A criança aprende, pelo exemplo, a escutar o outro.
Como usar a escuta ativa na escola?
Diferentemente do que era realizado nas práticas antigas em sala de aula, o ambiente escolar não é um local de fala exclusivo do professor, mas principalmente, de escuta ao aluno.
Isto não significa deixar os estudantes fazerem suas próprias vontades sem limites ou regras. Mas, sim, valorizar a relação entre aluno e professor, relacionando-se com seus alunos a partir da empatia e abrindo espaço para uma comunicação autêntica.
A escola é um local em que a criança convive diariamente e transporta consigo não apenas seus livros, mas uma bagagem de vida. Esta bagagem está nutrida de experiências vivenciadas pela criança e pode vir a somar ao contexto de sala de aula
Neste ambiente, não é apenas importante o conteúdo a ser ministrado, mas todos os aspectos da vida da criança que a permitam estar saudável física e emocionalmente.
Com isso, o professor precisa aprender a se calar e dar ouvidos aos seus alunos. As crianças sabem muitas coisas que trazem sabedorias inusitadas.
Quer resolver um conflito em sala de aula? Deixe os alunos explicarem e permita-os trazerem soluções. Controle a sua ansiedade para responder tudo, saber sobre tudo. Saiba que as crianças podem buscar soluções ainda não pensadas por você. Crianças? Sim crianças, das pequenas às maiores.
Assim, fortalecido o vínculo de afetividade e confiança com o adulto e os colegas, ela estará mais preparada para aprender, interagir, compartilhar e a se envolver de verdade nos assuntos estudados.
É preciso perceber que no ambiente escolar existe não apenas um ser a ser ensinado. Mas uma pessoa com sentimentos, gostos, opiniões, costumes e hábitos particulares. Tudo isto deve ser considerado.
Dar atenção à criança compreendendo estas particularidades é uma forma descomplicada e forte para o sucesso no processo de ensino e aprendizagem e de convívio em que é permitida a coparticipação do aluno, até invertendo direções propositadamente.
Em resumo, é importante que seja exercitada a empatia por meio da escuta ativa sem muito blábláblá por parte do adulto. É saber ouvir e ao falar apenas validar o que a criança fala no sentido de acolher o que ela tem a dizer em vez de dar conselhos que ela não quer ouvir.
O resultado disto? Quase que instantâneo.
Por exemplo: a criança jogou o lanche no chão, por baixo da mesa. A professora percebeu. Em vez de brigar e fazer o drama convencional, ela pode perguntar o que está acontecendo e se a criança quer conversar sobre o assunto a sós com ela. A questão se resolve na hora quando é possível a criança explicar, com suas palavras, o que a levou jogar o lanche embaixo da mesa, sem que alguém tente falar por ela.
Para isso é preciso cativar a confiança dos alunos, não se tornar a professora que dá conselhos em forma de lição de moral ou deixa a criança em exposição diante da turma sendo advertida frente aos colegas que fez algo errado e pior ainda sendo punida.
Essa é uma conduta muito comum nas escolas e inclusive nos lares que não dão espaço para a fala autêntica da criança pois ela sabe que não pode contar com esse adulto de verdade para ajudá-la.
Como diz o ditado: “Se conselho fosse bom ninguém daria de graça”.
O aluno sendo respeitado e com a participação efetiva no processo de aprendizagem, sendo ouvido com atenção e sensibilidade pelo adulto, acarretará em uma real evolução da criança em sua autonomia e, inclusive nas práticas de sala de aula.
Nessa investida, entre fala e escuta, todos saem ganhando. Já pensou?
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