Notícias e novidades

Diversas pesquisas e um mesmo tema: o papel da mulher 

Você já deve ter escutado que lugar de mulher é onde ela quiser, certo? Foi exatamente isso o que a Casa Escola buscou mostrar no mês de março, mês em que celebramos o Dia Internacional da Mulher. A temática foi abordada, de modo interdisciplinar, em várias turmas, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental.

O 1º ano matutino pôde conhecer um pouco mais sobre a história da data com a professora Kalyne Dantas, que preparou uma exposição com o tema Mulheres, família, criança e poesia. Durante a atividade, os alunos construíram uma releitura do poema “As Meninas”, de Cecília Meireles, com os nomes das meninas da turma.

Motivada pela professora Verônica Lima, a turma do 4º ano pesquisou o tema Mulheres de Destaque no Rio Grande do Norte e se aprofundou na vida e na obra de personalidades históricas como Clara Camarão, Dona Militana, Nísia Floresta e Débora Seabra. Cada aluno ficou responsável por apresentar uma personalidade de destaque no estado. Ao final, um grande mural foi montado na sala de aula com os resultados da pesquisa.

Já no 5º ano, o tema abordado foi as mulheres gamers. “Com os estudos, os alunos descobriram que as mulheres são maioria entre os jogadores, totalizando pouco mais da metade do público nos jogos eletrônicos, um número que vem crescendo anualmente”, explicou a professora Geissler Silva, que propôs a atividade.

A professora Thayane Morais, de Língua Portuguesa, aproveitou o calendário para estimular os estudantes do 6º ano a pesquisarem mulheres que se tornaram referência nos países que têm o Português como idioma oficial. “Além dos dados geográficos e históricos desses países, eles pesquisaram também figuras femininas, de preferência escritoras, que desempenharam um papel significativo”, explicou.

Ao entrar em contato com a biografia da cientista Marie Curie, através de um livro paradidático de Ciências, a professora Mariana Capistrano teve a ideia de abordar, nas aulas do 7º ano, os desafios que as mulheres enfrentam na Ciência. O debate foi inspirado na trajetória da cientista polonesa, a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel, o de Física, em 1903, o que culminou na realização de uma mesa temática sobre o assunto. O grande mérito da pesquisadora foi descobrir e isolar os elementos químicos, o Polônio e o Rádio, mas quase ficou de fora da premiação por não ser homem.

Mulheres na Ciência 

Voltada para os estudantes do Ensino Fundamental, a mesa temática Mulheres na Ciência teve como objetivo discutir os desafios que elas enfrentam nos diversos campos científicos. Organizada por Mariana Capistrano, professora de Ciências na Casa Escola, o evento fez parte do calendário de atividades voltadas ao Dia da Mulher e contou com a participação das pesquisadoras Janaína Capistrano (Letras/IFRN), Adriana Monteiro (Ecologia/UFRN), Marcela Pontes (Química/UFRN) e Cândida Dantas (Psicologia/UFRN), que compartilharam suas trajetórias, apresentaram os principais desafios e defenderam a necessidade de reivindicar mudanças para diminuir a desigualdade de gênero na ciência.

A partir da pesquisa do ensino superior no Brasil, Adriana Monteiro refletiu sobre como a desigualdade de gênero afeta as mulheres no País e mostrou que o número de mulheres em cargos de chefia, dentro das instituições de ensino superior, ainda é muito inferior quando comparado ao número de homens. Da graduação até a chefia, “as mulheres vão diminuindo de proporção em comparação com os homens, conforme a carreira vai avançando, porque a gente tem que lidar com 50 coisas ao mesmo tempo e tem muita mulher que vai desistindo”, comentou.

Adriana falou também sobre os desafios que as mães enfrentam no dia a dia para conciliar maternidade e carreira e lançou a seguinte pergunta: “a mãe, muitas vezes, tem que abrir mão de seu trabalho, do seu dia de trabalho, para cuidar da criança. Por que a gente não pode ser companheira? Por que os meninos, por que os pais não podem também compartilhar esse cuidado?”

Cândida Dantas falou sobre como a imagem da mulher foi sendo construída ao longo da história, de um modo que “até hoje, muitas vezes, para uma grande parcela da população, causa estranhamento ver a mulher em outro lugar que não é esse papel da maternidade, do cuidado com a casa, do cuidado com os idosos”.

Essa imagem ainda estereotipada sobre o lugar que a mulher precisa desempenhar na sociedade, segundo Cândida, faz com que discutir o tema Mulher na Ciência seja uma forma de pautar uma luta, que é também política. “Eu acredito muito que a Ciência é política; aquilo que a gente faz, aquilo que a gente estuda, como a gente se posiciona tem a ver com política”.

Para Janaína Capistrano, a invisibilidade da mulher na Ciência — e em outros campos de atuação — também faz com que as pessoas desconheçam suas contribuições. “Eu ensino há 20 anos e quando eu comecei a lecionar em escola pública, ouvi um aluno dizer: ‘as mulheres são burras mesmo. Eu nunca ouvi falar numa mulher que descobriu algo, que fez algo. O professor de Ciências saiu ainda há pouco e falou o nome de um monte de homem que descobriu um monte de coisa e não falou o nome de nenhuma mulher”.

Segundo Janaína, isso ocorre, porque até bem pouco tempo não existia representação feminina na história oficial que é contada em sala de aula. “Essa representação está sendo construída de forma muito recente. Nós, mulheres, fomos excluídas historicamente desse processo de construção do conhecimento. Por quê? Porque no processo de formação do capitalismo, as mulheres foram jogadas para dentro de casa e naturalizou-se a ideia de que mulher só sabe cuidar. Mas a mulher sempre fez Ciência”.

Ao apresentar o livro “Descolonizando os saberes: mulheres negras nas Ciências”, Marcela Pontes chamou a atenção para a necessidade de ampliar o olhar e perceber que não são apenas as mulheres brancas que produzem conhecimento. “É muito importante a gente ter esse recorte e procurar pensar no nosso país como um todo”, observou. Devido ao apagamento das mulheres negras na história da Ciência, muitas meninas não se reconhecem na imagem de cientista, afirma Marcela.

Segundo Mariana Capistrano, os desafios são muitos e “até hoje a gente sabe o quanto a mulher ainda tem dificuldades nas diversas áreas da Ciência”. A entrevista com a professora Mariana sobre o que a motivou a organizar a mesa temática e sobre o engajamento dos estudantes na ação você acompanha no site da Casa Escola.

Entrevista – Mariana Capistrano 

Como surgiu a ideia da mesa temática?

Mariana: Eu estou trabalhando o livro da Marie Curie com o 7º ano; a biografia dela. Então, a gente pensou em trabalhar no mês de março a questão da mulher na Ciência, porque Marie sofreu muito preconceito como cientista pelo fato de ser mulher. Até seu primeiro Nobel não queriam entregar a ela, porque era uma mulher; queriam dar para o marido dela. Então, eu trouxe essa temática, essa discussão para a sala de aula. E a gente pensou em ampliar. Será que foi apenas aquela cientista que sofreu isso? Como é hoje em dia?

A mesa temática foi então um desdobramento dos debates em sala de aula?

Mariana: Isso. Junto com a professora de Português, Thayane, a gente pensou em fazer uma discussão com os alunos e com mulheres que trabalham em várias áreas das ciências. Convidamos cientistas da área da Linguagem, Ecologia e Química para saber como é que está a mulher nesses diversos campos de trabalho hoje e quais são as dificuldades pelas quais passam. Será que são as mesmas dificuldades? Será que têm coisas em comum? Será que têm coisas bem diferentes? E trazer essa reflexão para os alunos.

O que vocês perceberam durante o debate?

Mariana: Estamos em 2023 e ainda se percebe muita dificuldade. A gente teve acesso na pandemia do coronavírus a vários relatos de mulheres que diminuíram a quantidade de papers (artigos científicos) publicados, justamente porque tinham uma demanda muito grande em casa. Enquanto os homens só trabalhavam, as mulheres tinham que, além de trabalhar, dar conta da casa e, muitas vezes, dos filhos. Então isso ainda é muito forte, mesmo depois de tanto tempo.

Como foi trazer esse tema para a sala de aula?

Mariana: A discussão em sala foi muito boa, porque tanto os meninos quanto as meninas conseguem ter essa visão, ter esse senso crítico, principalmente, as meninas. Elas lutam bastante para mudar isso e eu acho que essa é a função da escola também: fazer com que os alunos reflitam e assumam a atitude de mudar a sociedade.

Comentários:

Notícias Recentes

JIECE celebra coletividade e espírito esportivo na Casa Escola

Realizamos, entre os dias 9 e 18 de abril, a 32ª edição dos Jogos Internos da Casa Escola (JIECE). Inicialmente concebido para que os alunos...

Importância da escuta ativa: entrevista com a psicóloga Juliana Guedes

Educar é uma jornada desafiadora que diz respeito não apenas à escola, mas também à família, à própria criança ou adolescente, e à sociedade como...

Educação além dos muros – solidariedade, empatia e compromisso social

Na Casa Escola, aprendemos diariamente que a educação vai além das salas de aula. Educação envolve compreender e agir diante das diversas realidades sociais que...

Vivência prática, autonomia e participação: os pilares do nosso F2

A essência do trabalho no Ensino Fundamental 2 – carinhosamente chamado de F2 – aqui na Casa Escola vai além dos conhecimentos acadêmicos. Aqui o...

Carnavalizar o saber: alunos estudam as influências populares da folia

“Professora, agora eu tenho orgulho de ser soteropolitana.” – O depoimento de Ayla (5º ano vespertino), após descobrir o Olodum e se encantar com a...

“Eu sou, porque tu és”: perspectivas da Casa Escola para 2024

A Casa Escola inicia mais um ano letivo, repleto de desafios, expectativas e, acima de tudo, fiel ao seu modo de fazer escola. Com projetos...

Destaque no Enem: Entrevista com Gabriel Wayland, ex-aluno Casa Escola

Escrever sobre os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” é uma tarefa que exige repertório social...

Temas

Oficinas

Projetos

Aula passeio

Artigos

Eventos

No Youtube

Na Imprensa

Fique Atento

Enviar Mensagem
Fale no WhatsApp
Olá 👋 Podemos te ajudar?