Apesar de todo um discurso equivocado de compreensão e apropriação do termo Aprendizagem Significativa da Teoria de David Ausubel (1918 a 2008), as escolas, de um modo geral, continuam promovendo muito mais a aprendizagem mecânica e memorística do que a realmente chamada Significativa. A teoria é bem atual e foi criada no século passado, nos anos 1960, isto quer dizer que muitos ainda a desconhecem e, mais ainda, não conseguem realmente aplicá-la. Trata-se muito mais de uma postura do que um passo a passo a ser seguido.
A teoria ausubeliana defende que as ideias se entrecruzam no ato de aprender e que o conhecimento prévio do aluno é tão relevante que precisa estar contido no processo de novos assuntos a serem aprendidos. Ficou confuso? Espere, pois vamos falar melhor sobre isso.
Para o teórico, não há ambiguidade entre a aprendizagem memorística ou a significativa, ambas fazem parte da mesma linha de construção do saber. A primeira se ancora no conteúdo, principalmente em sua quantidade verticalizada, e não vai muito além. Pauta-se, assim, na metodologia em que o professor explica e o aluno estuda, a assimilação não se expande para novos horizontes e o estudante não se apropria da amplitude do tema.
Nesse sentido não há trocas de saberes, não há vivências, experiências significativas e instigantes, debates e reflexões e o aluno se torna um aluno (do latim, sem luz). Daí, o interesse e o engajamento empobrecidos se mantêm paralisados na escuta de uma fonte única (livro didático + professor), resultando em um saber direcionado àquela prova específica.
Então, cabe entender que a aprendizagem significativa se caracteriza por todo um trabalho que preza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos. Moreira, professor da UFRGS e autor de vários livros sobre o assunto, enfatiza que essa interação com o conhecimento prévio não é arbitrária e perpassa pelas intencionalidades, também prévias do(a) professor(a).
Nessa construção, os conhecimentos prévios vão adquirir novos significados ou ganhar maior estabilidade cognitiva. Isso se verifica quando o aluno consegue discorrer sobre o assunto em uma roda de conversa, participar de um bate-papo em casa e, principalmente, dar vazão à sua curiosidade e fazer novas perguntas pertinentes ao assunto de maneira espontânea.
Ausubel parte do princípio que a disposição para aprender não está nos materiais e nem nos livros, está na pessoa, isto é, está no aprendente. Como explica Moreira, o sujeito que aprende deve se predispor a modificar e a enriquecer os novos conhecimentos à sua estrutura cognitiva anterior. Portanto, o material potencialmente significativo precisa dialogar com a predisposição para aprender.
Este é o motivo pelo qual Ausubel faz uma aposta bem pensada sobre a valorização e inclusão dos conhecimentos prévios do estudante no processo ensino e aprendizagem e mais: ele alega que todos estes eventos que envolvem o ato de aprender já ocorrem desde os primeiros anos de vida da criança.
Sabe aquelas perguntinhas repletas de “por quês” que os nossos pequenos fazem? Que tal, em vez de entregar a resposta, escutá-las primeiro? O que será que a criança tem a dizer sobre o assunto que ela mesmo quer saber?
Nos primeiros anos de vida a criança deve passar por experiências variadas e concretas e receber o acolhimento de suas descobertas pelo adulto com cuidado e aprovação genuína. Preste atenção: a mediação do adulto não significa ter um informante compulsivo como companhia.
As vivências experimentadas pelas crianças têm muito mais consistência do que receber uma bateria de informações. Por isso é tão importante deixar a criança tocar, mexer, se sujar, sentir, observar, testar, destruir, movimentar etc., dando a ela a oportunidade de realizar inúmeras experiências, algumas ainda não nominadas e, por vezes, nem conhecidas em uma exploração silenciosa e profunda, que muitas vezes generalizamos e chamamos de brincar.
Já na escola, quando o novo assunto a ser abordado em sala tem como base as experiências ou saberes do aluno, o aprendente consegue se incluir no que vai ser estudado e fazer conexões entre o que ele sabe com o que está por vir. Por isso, Moreira nos explica claramente que “antes de trabalhar o conceito de emulsão, pode-se discutir com os alunos a maneira de preparar maionese; antes de falar em taxonomia, pode-se classificar de várias maneiras um conjunto de botões de diferentes cores, tamanhos, materiais, finalidades”.
A escola também é um lugar apropriado para a formação de conhecimentos de base para os próximos saberes que virão de maneira a formar uma memória afetiva que se une à memória cognitiva, o que coloca o professor em um lugar indispensável.
A facilitação da aprendizagem significativa vai depender muito mais da postura docente e escolar, do que de novas metodologias, mesmo as mais modernas que envolvem novas tecnologias.
Moreira ainda elucida que alunos provenientes da aprendizagem memorística quando chegam à universidade não têm uma bagagem suficiente de conhecimentos prévios para dar conta das disciplinas básicas; o que foi aprendido mecanicamente e serviu para o exame de ingresso já foi esquecido ou “deletado”. E pior, nas universidades, muitas vezes o esquema de ensino continua o mesmo.
E para finalizar, puxando a sardinha para a Casa Escola, pergunte aos professores das universidades e cursos profissionalizantes, de que escola vêm os alunos mais engajados e participativos em suas aulas?